segunda-feira, 4 de fevereiro de 2019

Daqui do Sofá da Minha Casa: Porque devemos ir ao centro espírita - Por Jaime Ribeiro




                                                               Sede ardentes na propagação da nova fé.  – Allan Kardec – Revista Espírita – Edição de abril de 1860.

Alguns meses atrás, um amigo da época a da juventude espírita me procurou para pedir dicas de boas palestras doutrinárias no Youtube. Obviamente eu já tinha uma lista das minhas palestras preferidas, incluindo clássicas de Divaldo, Raul Teixeira e Rossandro.  Compartilhei com ele a minha pasta e disse que em breve gostaria de conversar sobre aquele conteúdo. Eu gosto de conversar com os meus amigos sobre as palestras assistidas. Acho esse hábito tão prazeroso quanto assistir meus palestrantes preferidos falarem.

Uma semana depois, meu amigo me procurou pelo chat do facebook dizendo que precisava de mais palestras. Eu, que sou muito curioso, perguntei se o pessoal do centro que ele frequentava não compartilhava conteúdos, assim como fazem meus amigos e irmãos da Sociedade de Estudos Espíritas de Chicago, que estão sempre trocando temas relevantes entre si e indicando palestras maravilhosas em nosso grupo de whatsapp.

Para minha surpresa, ele falou que não estava frequentando um centro espírita. Contou que tinha tentado se vincular a uma casa, mas não conseguiu se identificar com as instituições que ficam próximas à sua casa. Alegou que as reuniões eram pouco motivadoras. Para usar suas próprias palavras:  “acho que as pessoas falam com muito boa vontade, mas não se dedicam a preparar o tema de maneira cuidadosa, envolvendo a atualidade e aprofundando, com o devido empenho, o ensino da Doutrina Espírita”.

Insisti para que ele procurasse outra casa espírita, mesmo que longe de sua residência, com o objetivo de não abrir mão de sua tarefa. Falei que ele poderia também permanecer na mesma casa que frequentou e se disponibilizar para ajudar a instituição no desenvolvimento e organização doutrinária. Claro que sei que muitas vezes essa tarefa é muito difícil. Não pensem que eu não estou familiarizado com a dificuldade que todos aqueles que querem trabalhar encontram no processo de escolha da casa do coração. Nós espíritas somos especialistas em atender aqueles que sofrem e precisam de nosso concurso, mas ainda precisamos aprender muito sobre como lidar com nossos irmãos de crença, dentro da própria casa espírita. Mesmo assim, tenho inúmeros argumentos para explicar porque desistir do movimento espírita é sempre a pior decisão a se tomar.

Não precisamos ir muito longe para entender porque temos a necessidade, até mesmo exigência espiritual, de nos congregarmos nas nossas instituições. Basta lembrarmos o dia no qual cada um de nós chegou pela primeira vez a uma casa espírita.

Eu por exemplo, quando cheguei ao Missionários da Luz, instituição que fica no bairro do Pina, em Recife, fui profundamente impactado pela palestra do dia. Desde a maravilhosa introdução com uma mensagem do livro Respostas da Vida, até a assertiva palestra sobre o livro O que é o Espiritismo. Já sai de lá espírita. Imagino que cada um de nós também tenha uma história incrível para contar sobre o dia no qual se tornou espírita.  Pode ser que esse dia tenha ocorrido em um período de muito sofrimento e amargura em nossas vidas, mas tenho certeza que se tornou  inesquecível para cada um de nós. Foi na casa espírita que encontramos o conforto das palavras do consolador prometido por Jesus e mudamos a nossa vida para sempre.
Seja por curiosidade ou por sofrimento, fomos acolhidos e contemplados com a oportunidade de assumir o nosso posto, previamente combinado no mundo espiritual, para cumprir a urgente tarefa de acelerar a transição do nosso planeta para mundo de regeneração.

O que nos faz pensar que não devemos fazer o mesmo por aqueles que estão sofrendo agora ou que ainda não encontraram a conexão espiritual necessária para se juntar ao nosso grupo de trabalhadores da última hora?
 O professor Herculano Pires, em sua obra O Centro Espírita, fala que “se os espíritas soubessem o que é o Centro Espírita, quais são realmente as suas funções e a sua significação, o Espiritismo seria hoje o mais importante movimento cultural e espiritual da Terra”.  Não há dúvidas de que precisamos estar juntos para continuarmos divulgando, estudando e vivendo a Doutrina Espírita.

Às vezes, nos desapontamos com o movimento e tentamos separar a Doutrina das pessoas. Isso ocorre porque, na hora da decepção, esquecemos que a Doutrina é dos espíritos, como diz seu próprio nome. Pode até parecer redundante relembrar isso, mas nós também somos espíritos.

O Espiritismo também precisa das pessoas, para que sua tarefa seja cumprida.  A Doutrina não é apenas uma mensagem de transformação individual, ela tem a proposta de redenção coletiva. Reduzir o espiritismo ao plano individual de cada um é tentar isolar uma mensagem que usa a transformação íntima para impactar a humanidade.
Importante que lembremos também que o Espiritismo não pode ser vivido sem a realização da sua maior máxima: “Fora da Caridade Não Há Salvação”. É impossível exercitar a caridade sem o convívio humano. Somos seres únicos, mas fomos criados para viver em comunidade. Todo espírito está inevitavelmente submetido à lei do progresso, essa sublime lei da vida.

Tudo pode começar de uma forma imperceptível. Acontece um desapontamento, depois outro e, por fim, como sabemos que somos espíritas e que nada abalará a nossa crença, até mesmo a falta da convivência no centro espírita, optamos por ficar em casa. Quando nos damos conta, estamos completamente envolvidos na intensa rotina do dia a dia e aos poucos nos afastamos das práticas doutrinárias. Dessa forma, mesmo não duvidando dos princípios básicos, mesmo sentindo a Doutrina pulsando dentro de nós, a ligação vai se tornando tênue e, sem perceber, rebaixamos ao segundo plano tudo aquilo que outrora nos fortaleceu e ressignificou a nossa vida.

Assim nos transformamos em Espíritas de Sofá. Passamos a adorar a Doutrina, compartilhamos mensagens positivas nas redes sociais, nos declaramos espíritas ao IBGE, mas não entregamos o melhor que podemos de nós mesmos para que a Doutrina que amamos alcance o coração daqueles que anseiam pelo conforto da mensagem do Cristo.

Todos nós sabemos que algumas instituições contam com desafios significativos no campo do relacionamento humano. Quem nunca se perguntou como “aquela pessoa” estava trabalhando na recepção dos assistidos, quando não apresentava habilidade necessária ao trato social? Quem nunca se deparou com algum parente de dirigente que quando tenta ajudar em qualquer tarefa, consegue desajustar os demais envolvidos no trabalho ou até mesmo convencer  pessoas novas a irem embora do centro? Em algumas instituições parece até que a pessoa está presente em todas as tarefas do centro e torna-se impossível evitar o contato com ela.

Quando observamos essas situações de uma forma simplificada, esquecemos que mesmo essas pessoas difíceis, se encontram em lutas íntimas para se tornarem indivíduos melhores. Somos todos necessitados de compreensão e respeito em nossas deficiências e inabilidades. Temos que ter caridade e capacidade de enxergar o mundo ao nosso redor com sabedoria e humildade. Muitas vezes, precisamos apoiar essas pessoas difíceis, procurando, com certa habilidade, proporcioná-los o entendimento de como poderiam ajudar de uma forma mais efetiva. Somos todos indivíduos em evolução. Cada um com suas batalhas no campo do desenvolvimento íntimo. Graças a Deus temos essas pessoas por perto para nos auxiliar. Imaginemos o quanto nós também temos traços de personalidade que exigem esforço e indulgência daqueles que nos cercam. Precisamos vivenciar a caridade e a empatia.

Eu sei que às vezes é uma luta. Só Jesus na causa! Sei que muitas vezes é um erro de sensibilidade de gestão, por não perceber que algumas pessoas de boa vontade podem atrapalhar a tarefa do bem. Contudo, afastar-se será sempre a pior decisão para nós mesmos e para o Espiritismo. Nós nos comprometemos em seguir essa Doutrina. Segui-la significa também preservá-la, divulgá-la e vive-la dentro de nossas instituições.

Nos momentos atuais, sabemos a importância das palestras em formatos digitais, para a propagação da Doutrina Espírita. Trabalhos como o do Rubens da Web Rádio Fraternidade são essenciais para a divulgação doutrinária, proporcionando a todos o acesso a conteúdos, até então disponibilizados de uma forma muito limitada, apenas para aqueles que podiam estar presentes nas palestras, ou para quem comprasse o DVD do evento, quando o mesmo era gravado. As palestras que se hoje encontram no Youtube são essenciais para que todos possam ter acesso às mensagens de vários estudiosos da Doutrina espalhados ao redor do mundo. Em especial para os mais jovens, o conteúdo em vídeo é o melhor formato para proporcionar a multiplicação do conhecimento do pensamento espírita e gerar o engajamento necessário ao movimento. Precisamos propagar e utilizar bastante os recursos dos podcasts e vídeos espíritas em geral, nas nossas permutas doutrinárias.

Não podemos permitir que a facilidade de acesso digital nos torne Espíritas de Sofá. Precisamos voltar aos nossos lares, que são as instituições espíritas, para ajudar na tarefa começada por Allan Kardec. Assim como Jesus precisa de nós para multiplicar a sua palavra, Kardec e a legião do Espírito de Verdade, conta conosco para que a mensagem do consolador prometido chegue aos corações daqueles que ainda não a conhecem.

 Até mesmo a pretexto de que alguns  centros espíritas não estão oferecendo os níveis de trabalho que imaginamos que nossa intelectualidade é merecedora, não deveríamos optar por abandoná-los. Temos a obrigação de dar nossa cota de trabalho para levar conforto a quem necessita de uma palavra amiga e de esclarecimento espiritual. É nosso dever apoiar as casas espíritas no desenvolvimento de estudos que alimentem a sede de conhecimento daqueles que estão em busca de beber na fonte de Kardec e Jesus.

Certamente, navegando na internet vamos encontrar bons conteúdos e palestras de renomados nomes do movimento espírita. Contudo, apenas nas reuniões e tarefas presenciais seremos capazes de extrair o melhor do que foi ensinado, por essa Doutrina que nos respondeu tudo aquilo que queríamos saber e não encontrávamos em qualquer outro lugar.

As casas espíritas precisam de nós, assim como nós um dia precisamos delas.

Façamos a nossa parte. Jesus conta conosco. 
Temos muito trabalho pela frente e estamos aqui para executá-los juntos.

Ei, você ainda  está no sofá? Levanta daí. J

Vem aqui se juntar à nossa tarefa. 
Será uma alegria encontrá-los no Núcleo kardecista Antônio Pereira de Souza, em São Paulo. Podemos também nos encontrar em alguma das escolas espalhadas pelo Brasil que adotam o Programa Garrafas ao Mar, da Fraternidade sem Fronteiras. Vamos juntos engajar as crianças brasileiras no trabalho voluntário para construir escolas nas regiões mais pobres do planeta.

Trabalho é o que não falta! Vamos mudar o mundo?


Jaime Ribeiro é natural de  Recife. Espírita desde a adolescência,  é autor e palestrante. Trabalha como executivo da área de educação. É engenheiro químico formado pela Universidade Católica de Pernambuco e pós-graduado em marketing pela Fundação Getúlio Vargas, no Rio de Janeiro. Escreveu Dora, seu primeiro livro infantil, que aborda as habilidades socioemocionais para as crianças, usando a adoção animal como instrumento. Também é autor do livro Empatia – Por que as pessoas empáticas serão os futuros líderes do mundo? Que aponta a empatia como a habilidade que será mais valorizada pela sociedade, em um mundo cada vez mais dominado pela tecnologia e com maior fragilidade de laços entre as pessoas.






13 comentários:

  1. Muito interessante é verdadeiro este texto.Gostei vou tentar reagir e voltar aos estudos.

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    1. Siga em frente! Aguardo notícias do seu retorno! :-) Se conecta comigo no instragram. @jaimeribeiro

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  2. Ótimo texto. Quais podcasts você indica?

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    1. Eu indico dois Youtubers incríveis o Espiritalks e o Coaching Espírita.
      Eles são incríveis!

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  3. Concordo plenamente,o espirita precisa ser atuante na casa espirita, estudando e trabalhando.

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  4. Concordo plenamente...Precisamos seratuantes na Casa Espirita.

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  5. Jaime, sou espírita há mais de 30 anos. Exatamente me enquadro no seu texto. Fiz todos os cursos, trabalhei no atendimento fraterno por alguns anos e ultimamente fiz o curso de passe mais não me prontifiquei ao trabalho. É uma longa história. O que sinto no centro espírita, e a falta de acolhimento, relacionamento entre os membros como ocorre com os evangélicos e falta de atenção aos membros do centro. Por exemplo não existe um relacionamento social. Um atendimento aos irmãos qdo se sustentam por um período, saber o porquê, visitar. Independente da formação de grupos , excluindo algumas pessoas. Está queixa e geral. Pode me explicar o porquê? Sou de Aracaju meu zap e 79988246101 caso disponha de tempo para me responder. Abraço fraterno.

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    1. Ieda, minha irmã. Suas observações são pertinentes para algumas casas, infelizmente. Mas nós precisamos ser a mudança que queremos ver no mundo, por isso precisamos encontrar uma casa na qual seja possível viver nosso potencial de espiritualidade. E a paz e a tranquilidade são fundamentos para o impulso do trabalho. Busque uma casa nova. Insista. Lembre-se que o Cristo e seu maior discípulo, Paulo, não encontraram qualquer ambiente favorável para servir. Apesar das desconfianças, traições, maledicência e pedradas, eles seguiram em frente.
      Será que nós colocamos numa posição do trabalho pelo bem mais privilegiada do que a dos cristãos dos primeiros anos?
      É verdade que as casas espíritas precisam de um aprendizado no processo de integração e convívio social. Eu costumo dizer que a Gestão da Casa Espírita tem quatro bases importantes e que devem ser equilibrados com sabedoria: Doutrinária; Trabalho Voluntário, Convivência Social e Administrativo. Este último parece desafiador mas é o mais simples. Em relação aos outros três, se não houver equilíbrio a casa não funcionará efetivamente aos propósitos do Cristianismo Redivivo. Sem bons estudos e sem oferecer a possibilidade para mesmos os mais antigos seguirem estudando, a casa falha. Se o trabalho não for consistente e conseguir abraçar pessoas novas e antigas no serviço do bem, a casa precisa refletir sobre caridade inclusiva. Quando falha no convívio social e tem um ambiente onde membros brigam, não se cumprimentam e não tem qualquer relação fora das reuniões, a casa fracassa. Nós espíritas adoramos falar de espiritismo. Se não podemos ter a amizade de nossos irmãos do centro, onde vamos falar sobre isso? Bom lembrar de Jesus que estava sempre reunidos em convivência social centre os seus.
      O nosso papel é compreender tudo isso e mudar as realidades. Conto com seu retorno, meu irmão! Aqui em São Paulo eu passei por algumas dificuldades para achar uma casa acolhedora e amorosa e achei o Núcleo Kardecista Antônio Pereira de Souza que me enche de amor e a recíproca é verdadeira. Muita paz!

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  6. Gratidão pelo lindo e esclarecedor texto.

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  7. Bom dia.. me identifiquei muito com o seu texto, frequentava uma casa em outra cidade e me mudei, a diferença é gritante, o acolhimento, as reuniões, as pessoas, e se torna muito dificil trabalhar na casa, me tornei espirita de sofá, a minha dúvida é: parece que so valem os atos feitos dentro de alguma casa espirita, se não o faço, ou mostro para os outros não vale, sinto uma cobrança nesse sentido, trabalho feito fora da casa, mesmo seguindo a doutrina, não é válido, é realmente isso?

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