terça-feira, 27 de agosto de 2019

O Problema da Dor e a Antifragilidade do Espírito Humano por Jaime Ribeiro




Uma nova perspectiva espírita sobre o sofrimento.

Por Jaime Ribeiro


Se, desde as primeiras estadas na terra,  a alma vivesse livre de males, ficaria inerte, passiva, ignorante das coisas profundas e das forças morais que nela jazem. Leon Denis 


A vida humana é composta de prazeres e dores. Ambas necessárias a educação do espírito em evolução.
Imaginar uma vida só de prazer é um delírio infantil, egocêntrico e egoísta.
Por não compreendemos perfeitamente as leis do universo, muitas vezes somos compelidos a acreditar que somos capazes de coordenar as emoções e reações dos outros, controlando o impacto dessas ações em nossa existência.
Desejamos uma vida perfeita na qual a dor fosse suprimida e pudéssemos gozar de um paraíso particular adquirido sem grandes esforços.  Contudo, sem o concurso da dor, não é possível que a vida humana seja completa e plena. O sofrimento é a ação da vida para quebrar os nossos estreitos conceitos individualistas e expandir o espírito humano para que rompa os limites que aprisionam seu potencial divino.

Pelo exercício da dor e do sofrimento deixamos de ser criaturas frágeis para nos tornarmos seres Antifrágeis.
Para explicar o que isso significa me apropriarei de um conceito criado pelo autor libanês Nassim Taleb.
Para você entender o conceito de antifrágil é preciso primeiro definir o que significa ser frágil, que seria algo que quebra ou se danifica quando submetido à pressão de um agente externo.
Diferente do que costumeiramente se pensa o contrário de frágil não é rígido- nosso idioma, muito menos qualquer outro idioma conhecido, não possui uma palavra para expressar o antônimo da palavra frágil- coisas rígidas ​​são aquelas resistentes, capazes de suportar situações extremas sem se alterar. Nem perdem nem ganham com elas. Não se danificam diante de estressores externos, mas também não se transformam em algo melhor quando impactados por esses.
Antifrágil é oposto de frágil. É algo que melhora quando está diante de uma situação inesperada, estressora ou até mesmo caótica. É algo poderoso capaz de torna-se melhor diante dos piores cenários.
O nosso espírito humano é um exemplo divino do que significa ser Antifrágil.
Essa é a razão porque Jesus nos disse  Bem Aventurados os Aflitos, pois que serão consolados, no Sermão da Montanha.
Para os mais atentos em relação às sequências do Evangelho, é possível se perceber que não foi por acaso que após aquela lição atemporal, ele acrescentou: Vós sois o Sal da terra (M 5:13) e Vós sois a Luz do mundo (M 5:14).
Só estaremos verdadeiramente preparados para nos tornarmos o Sal da terra e a Luz do Mundo se não formos frágeis a ponto de perdermos o nosso valor ou apagarmos nosso brilho divino diante das intempéries da vida.
Jesus em momento algum falou que deveríamos aguentar o sofrimento sem coragem e bom ânimo.
Como diz Leon Denis: pelo sofrimento aprendemos a humildade, a indulgência e a compaixão, qualidade primordiais do equilíbrio das pessoas verdadeiramente fortes.

Essas habilidades nos preparam para uma compreensão mais nítida de como devemos nos comportar diante de outras criaturas humanas, deixando para trás traços primitivos, que foram importantes para nossa proteção e sobrevivência na passagem por experiências primitivas, mas que serão desnecessários na nossa jornada rumo à planos melhores do que o que hoje habitamos.

Por isso, sermos antifrágeis é a resposta mais apropriada para a grande pergunta filosófica que atravessa os séculos: por que sofremos?

Sofremos para nos transformarmos em criaturas melhores, para sermos capazes de compreender as grandes lições da vida e nos tornamos Espíritos Antifrágeis.
Existem vários exemplos de pessoas que realizaram grandes feitos após passar por grandes dificuldades e provações da vida. Não se deixaram abalar pela dor e pelos ofensores que acreditaram que o abateriam e saíram de situações caóticas e dolorosas mais fortes e capazes do que eram anteriormente.

É assim que todos nós devemos reagir diante de  nossas dores. No meio do pranto e da incerteza, devemos lembrar de nossa condição divina e ajustar a nossa reação para nos prepararmos para uma vida melhor.

A diferença de quem compreende a dor e responde à natureza espiritual antifrágil e aqueles que se fragilizam demostrando arrogância, dureza de coração e revolta, é a capacidade de realização pós-trauma. Enquanto não sairmos mais fortes dos campos do sofrimento humano, a vida repetirá as lições para que aprendamos e nos preparemos para nossa maior proporção espiritual.

O ser humano endurecido ou o fragilizado experimentam a mesma versão de controle de sua jornada evolutiva. Precisam romper barreiras de compreensão para alcançarem caminhos evolutivos mais encurtados.

Experimentamos a dor porque ainda existe uma desproporção entre nossa fragilidade e o conjunto de todas as forças universais que nos cercam. Somos incapazes de assimilar nitidamente todos os mecanismos e leis que influenciam a vida humana. Somos crianças que desejam ser santos.

Apesar de boa parte das verdades divinas estarem sendo reveladas pela Doutrina Espírita e sabermos que estamos submetidos à leis perfeitas, conhecer alguns princípios e estuda-los não é suficiente para que possamos concluir nossos ciclos de sabedorias necessárias ao progresso espiritual.

Sem a dor não estaríamos prontos para vivenciar experiências mais sofisticadas do nosso destino espiritual, regido pela Lei do Progresso. Continuaríamos inertes e ainda seríamos espíritos frágeis e distantes de nosso potencial divino.

O espiritismo nos dá a melhor explicação sobre a razão de nossos sofrimentos. Libertando aqueles que se prenderam à doutrinas deterministas e acreditavam que eram miseráveis e esclarecendo àqueles que não encontram racionalidade ou justiça na dor. As múltiplas existências e a Lei do Progresso são ensinamentos que atenderam aos que ansiavam por explicações mais consistentes no campo da fé.

Só por meio das turbulências da vida seremos capazes de nos preparar para sermos cocriadores divinos de nossa melhor versão.
Como disse Paulo aos Hebreus: depois que fostes iluminados, suportastes grande combate de aflições.
Precisamos ter bom animo para desenvolvermos a nossa melhor versão após os piores momentos de nossas vidas. Sigamos o rumo da nossa evolução espiritual.
Lembremos que somos todos Antifrágeis!








Siga Jaime Ribeiro nas redes sociais: