Uma delicada e significativa arte no relacionamento entre as criaturas humanas é conversação. Cada vez diminui a conversação verbal, substituída pelos admiráveis instrumentos da moderna tecnologia virtual, que se transformaram, sem que hajam dado conta aqueles que os utilizam, em verdadeiro tormento, em fator desencadeante da ansiedade. Deseja-se estar em todo lugar ao mesmo tempo e participar-se de tudo numa volúpia insana de vivenciar-se apenas o prazer imediatista e devorador, que sempre cede lugar a outras experiências afligentes.
Os tormentos pessoais aumentam e os diálogos são normalmente virtuais, sem o calor humano da convivência, de estar-se ao lado, de sentirem-se as emoções edificantes que nutrem os sentimentos. Como consequência, a arte da conversação coloquial e iluminativa, instrutiva e consoladora, que esclarece e debate com respeito, cede lugar às discussões intérminas, às agressões verbais e aos disparates, porque os indivíduos, ao invés de amar-se uns aos outros, estão armados uns contra os outros.
Muita falta fazem o diálogo pessoal, a conversa proporcionadora de júbilos, a presença física do outro com quem se comunica, observam-se-lhe as reações e sentem-se-lhe os sentimentos reais. As máscaras bem cuidadas do personalismo e do exibicionismo disfarçam, ocultam o self, em apresentações fascinantes que agradam, porque se expressam em fantasias e anseios incontidos, logo tombando ou diluindo-se ante o contato pessoal, o estar com o outro... Tal conduta leva aos relacionamentos descartáveis, às dificuldades de comunicação, aos desafetos.
Esforça-te por voltar a conversar em paz e sabedoria, a iluminar consciências e a iluminar-te também. Torna a tua palavra um poema de bondade e de carícia, a fim de que haja mais ternura e compreensão entre todos os seres humanos. A palavra que enuncies seja a expressão dos teus sentimentos superiores, capaz de estimular, orientar e tornar feliz aqueles a quem a dirijas.
Divaldo P. Franco
Artigo publicado no jornal A Tarde, coluna Opinião, em 04-12-2014.
Divaldo Franco escreve na quinta-feira, quinzenalmente.
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