O golpe foi de uma crueza ímpar. Ainda nos encontramos chocados.
Repetiu-se a tragédia que vem ameaçando as criaturas humanas nos últimos anos,
tal seja, o terrorismo provocado pelo fanatismo religioso perverso. A resposta
da França e da sociedade foi imediata, enquanto se mobilizaram todos os
recursos possíveis, para alcançar-se os criminosos e puni-los devidamente. Os
direitos humanos, especialmente o da liberdade de pensamento, de palavra e de ação, são inderrogáveis.
Conquistados com incontáveis sacrifícios ao largo dos séculos, são uma das mais
grandiosas conquistas do processo evolutivo da sociedade.
Ninguém pode interditar a liberdade de movimento e
ação das criaturas humanas, nem proibir, perseguir, impedir a liberdade da
palavra, seja ela verbal ou gráfica, exceção feita por ocasião de regimes
arbitrários. Se tal viesse a acontecer, e às vezes ocorre, trata-se de um
terrível retrocesso ao passado lamentável, quando éramos escravos da prepotência
e da estupidez.
No caso em foco, o lápis é mais poderoso do que o
fuzil. Mata-se o indivíduo, mas não se aniquila o pensamento, que somente pode
ser suplantado por outro de maior magnitude. Herança da barbárie, o fanatismo
religioso, político ou qualquer espécie, indignifica o ser humano e dele faz
vítima do sicário das vidas que o cercam. Isto somente ocorre em razão do
estágio primário do processo antropológico da evolução, que retém o indivíduo
na furna do egoísmo e do atraso moral.
É inevitável que cresçamos na direção da plenitude,
e o amor com respeito ao direito alheio é o sentimento que deve permanecer
inviolável em todos os passos da sociedade. Todos devemos repudiar a
intolerância, a prevalência da força sobre o direito à vida, contribuindo de
maneira eficaz pela solidariedade, para que alcancemos a meta pretendida que é
a felicidade. Repito com os milhões de cidadãos que hoje levantam a bandeira da
liberdade proclamando: Je suis Charlie.
DIVALDO FRANCO
Artigo publicado no jornal A Tarde, coluna Opinião, em 15-01-2015.
Divaldo Franco escreve quinta-feira, quinzenalmente.
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