Eles já estão entre
nós.
Estamos
preparados para receber uma nova ordem de humanos?
A época atual é de transição; confundem-se
os elementos das duas gerações – A
Gênese Cap. XVIII -28.
Alguns jovens estão batendo nas
nossas portas. Estão em silêncio, no fundo da sala das reuniões
públicas ou vagando curiosos nas nossas livrarias, de prateleira em prateleira.
Observam-nos atentamente. Muitos deles chegaram aos nossos centros após
serem impactados por algum conteúdo espírita nas redes sociais. Outros,
seguiram os passos de familiares ou sofreram alguma desilusão da vida e agora
estão em busca de esperanças e consolações, exatamente como aconteceu conosco
no passado.
Esses jovens foram atraídos pela força inexorável dos
compromissos reencarnatórios. Eles já estão
entre nós.
Na revista espírita de abril de 1866, por meio
dos médiuns Srs. M e T, em sonambulismo, os espíritos nos alertaram que “os
tempos estão chegados”. Falaram que a humanidade chegou a um de seus períodos
de transformação e que a Terra vai elevar-se na hierarquia dos mundos.
A
humanidade tornou-se adulta. Já conquistamos inúmeros recursos cognitivos e
dominamos significantemente a ciência. Neste momento, estamos vivenciando o
início de uma grande revolução tecnológica, no qual os dados e a inteligência
artificial vão revolucionar as estruturas das organizações , afetando
significativamente a forma como a humanidade se relaciona
entre si.
Com a
chegada dessas novas possibilidades, provenientes do domínio dos dados e o uso
dessas informações extraídas do chamado big
data(1), abrem-se as portas de novas necessidades para o ser humano. Faz-se
necessário o desenvolvimento das habilidades emocionais e espirituais, essenciais
para liderar essa nova fase, de maneira sábia e responsável. Elementos
importantes para o protagonismo, diante da configuração dessas máquinas e robôs,
para que sirvam ao bem comum do mundo.
Nessa
fase adulta, na qual o intelecto já está desenvolvido e endereçado, abre-se
espaço para o foco no amadurecimento moral e comportamental.
No
meu livro novo, Empatia: por que as
pessoas empáticas serão os futuros líderes do mundo, publicado este ano pela
editora Letramais, alertamos para que
o foco da educação, seja nas escolas ou nas famílias, contemple o
fortalecimento das habilidades socioemocionais. No momento em que a tecnologia
parece nos distrair com excesso de informações e conteúdo, a capacidade de
discernir o que é relevante ou não, para nós e para o outro, agindo de forma
empática, será uma das principais fortalezas da humanidade.
O
fortalecimento dos chamados soft skills(2)
é essencial para a consolidação de um novo ciclo, a nova era. Pesquisadores
ao redor do mundo, demonstraram que se faz necessário descentralizar a
responsabilidade e a urgência do entendimento dos temas relacionados ao trato
humano; retirando a exclusividade das congregações religiosas e discussões
filosóficas sofisticadas.
Essa
convergência entre ciência e religião é mais um sinal de que o mundo de
regeneração está chegando.
Para
a concretização dessa nova etapa, milhares de seres de uma nova ordem
espiritual estão reencarnando no mundo, com o objetivo de nos auxiliar nessa
grande transição. Espíritos nobres, que se aliarão conosco, na preparação do mundo
de regeneração. Já estamos recebendo essa nova categoria de espíritos, provenientes
de sistemas e regiões mais evoluídas, para acelerar a evolução do nosso
planeta.
Ao
longo desse processo, anunciado pelos espíritos que coordenaram a codificação
espírita, fica uma indagação: será que estamos preparados para receber esses novos
colaboradores, nas nossas instituições? Será que estamos atentos e vigilantes
para que eles não passem despercebidos aos nossos olhos desatentos?
Já há algum tempo, o mundo inteiro vem falando
o quanto as outras gerações se assustam com a Geração Y- jovens nascidos pouco
depois dos anos 80 até o ano 2000 - os chamados Millennials desafiaram o nosso tempo com suas transformações comportamentais
e provocações sociais.
Esses
jovens passam o dia inteiro interagindo, quase o tempo todo apenas pela tela de
seus celulares. São ansiosos, autoconfiantes e não se encaixam facilmente em
hierarquias. Contudo, são mais preparados para lidar com as diversidades e se
preocupam com o meio ambiente como nunca nos preocupamos antes na história da
humanidade.
Os Millennials são menos propensos a se
vincular a uma instituição religiosa. Acreditam que a religiosidade é mais importante
do que a religião, exatamente como nos ensinaram os espíritos há várias
gerações atrás. Essa característica é suficiente para demonstrar a sinergia
entre eles e a perspectiva religiosa da Doutrina Espírita, que ressignificou o
culto religioso, trazendo-o para dentro do coração. Afastando-o das formas
exteriores e resgatando a característica singular que Jesus trouxe à relação
com o Criador.
Provavelmente,
essa é uma das gerações que veio nos preparar para as novas fases que estão na
iminência de se apresentar ao mundo: épocas caracterizadas pela dominância da
tecnologia em quase todas as frentes da organização humana.
Só
que não parou por aí. Depois deles já chegou a Geração Z, que já nasceu
submetida às novas tecnologias e formas de interação, entre 1994 e 2010, os
primeiros nativos digitais. Essa nova geração, não se conforma em ser passiva e
tem profundo interesse em produzir e consumir o seu próprio conteúdo. Quem nunca ouviu falar dos youtubers, que desafiam a audiência de
grandes emissoras e celebridades da televisão? Enquanto nós sonhávamos com a
facilidade de ter tudo pronto e disponível nas nossas casas para economizar
tempo, eles são encantados com a possibilidade de fabricar e customizar o que
consomem.
Segundo
alguns amigos de Chico Xavier, Emmanuel teria reencarnado no Brasil por volta
do ano 2000. Uma provocação que precisamos nos fazer nesse momento é: seríamos
capazes de reconhecer Emmanuel, hoje um jovem de aproximadamente 18 anos, se
ele chegasse em nossas casas, com fones de ouvido e smartphone na mão, nos “desafiando” a construir um novo conteúdo ou
uma nova plataforma digital para o movimento espírita? Ele teria espaço para
nos ajudar a redesenhar a dinâmica de nossos estudos doutrinários longos e
tradicionais? Será que esperamos que ele, ou algum espírito da mesma ordem de
grandeza, cheguem às nossas casas apenas na meia-idade, empunhando pergaminhos
e vestidos com o figurino do romance Há
dois Mil anos? Receberíamos com alegria as suas sugestões e ideias, nos
tornando responsáveis por conduzir e ajudar a desenvolver tamanho potencial
espiritual, ou faríamos com que ele desistisse de nós e procurasse outra casa? Lideraríamos
oportunidades para que eles desenvolvessem suas habilidades mediúnicas e
doutrinárias ou transformaríamos esse processo numa prática de resiliência e
paciência?
Emmanuel,
se você está lendo esse artigo aqui no blog da Intelítera, por favor, não
desista da gente. Nós estamos nos preparando e lutando contra os desafios das
transformações de nossa época. Foi mal, Mano! 😊
Se
você for um jovem espírita e estiver de alguma forma triste com a gente:
persista. A Doutrina Espírita é o Consolador prometido por Jesus. Precisamos de
você para executarmos juntos a transição
planetária. Será uma alegria me conectar com você também: meu instagram é
@jaimeribeiro.
Eu,
particularmente tive muita sorte. Quando era um jovem - da Geração X- no
movimento espírita, em Pernambuco, encontrei mentores e orientadores na Sociedade
Espírita Bezerra de Menezes. O mais importante foi Luiz Mário, hoje já no plano
espiritual, que silenciosamente me incentivou aos estudos da codificação e me
engajou ao trabalho doutrinário e social. Uso a palavra sorte, porque ouvimos
muitos os relatos de jovens que se desapontam ao tentar desenvolver alguma
atividade em instituições Brasil afora, alguns se mantém firmes à Doutrina,
outros se desapontam e retardam a tarefa. Diferente do que pensamos, a culpa
não é deles. A tarefa de integrá-los e desenvolvê-los, é nossa.
Provavelmente
ainda estamos presos à forma como fomos engajados ao espiritismo no passado, o
que nos leva a acreditar que as novas gerações devem se adequar ao formato que
acreditamos ser o melhor. Para nós, se
eles não entendem, é um indício de que não estão efetivamente comprometidos ou
preparados para servir a Jesus.
Estamos
tão enganados como os pais que tentam fazer os filhos se interessarem por
atividades, jogos, músicas, danças e filmes que gostavam na sua época de
juventude. Alguns jovens podem até achar legal conhecer os gostos dos pais, mas,
em alguns momentos, pode parecer bem estranho para eles.
Desde
a época do surgimento dos primeiros Millennials,
estamos quebrando a cabeça para entender porque nossos centros e nossos eventos
estão com pouca participação do público jovem.
Quando
assumimos que eles já não têm interesse por questões espirituais como nós
tínhamos, estamos repetindo o mesmo comportamento que nossos pais tiveram no
passado, quando apontaram que a nossa geração, já não cultivava valores morais
nobres como a deles. Assim como nossos pais estavam exagerando na análise dos
conflitos de gerações, nós também estamos, quando realizamos esse confortável
julgamento.
Allan
Kardec apontou que “a nova geração se distingue por inteligência e razão geralmente
precoces, juntas ao sentimento inato do bem e a crenças espiritualistas, o que
constitui sinal indubitável de certo grau de adiantamento anterior” (A Gênese Cap. XVIII -28 fonte Kardecpedia).
Ao longo dos últimos anos, nos ocupamos em
buscar atividades para encantá-los. Promovemos
corais, brincadeiras, salas coloridas e outras atividades, numa tentativa bem-intencionada
de adivinhar quais os seus objetos de interesse. Tomamos essas nobres
iniciativas, desavisados do fato que essa geração gosta de criar suas próprias
dinâmicas, cabendo a nós o dever de apoiar e amparar.
Muitas vezes, desejamos que eles assumam
compromissos com o trabalho do bem sem entendermos a melhor forma de promover
essa nova rotina. Repetimos “disciplina, disciplina e disciplina” para eles,
mas o que vai fazer com que se engajem no trabalho e se adequem á disciplina do
serviço do bem, é o propósito claro e a alegria da liberdade em servir. Para
eles, o compromisso vem depois do engajamento. Nós queremos que seja o inverso.
Infelizmente estamos enganados. Essas novas gerações
não vão se comprometer com alguma atividade só porque falamos que é bom e
necessário. Os bônus horas, para eles, são os bitcoins(3) espirituais que estão dispostos a acumular, mas
precisam que deixemos claro, de forma racional, os benefícios do serviço no
campo do bem.
Dessa forma, as instituições filantrópicas também precisam se
desafiar a avaliar novos modelos de voluntariado. Preparando-se para receber a
cota de dedicação, mais ou menos generosas, que cada um deles tem para oferecer
nesse momento da vida.
Diferente do que a maioria de nós imagina, essa
forma de eles se envolverem não é um problema. A fração de trabalho, ou o nível
de engajamento que cada um pode dar, serão sempre bem-vindos no campo do
trabalho do Cristo. Se o jovem só pode vir duas vezes ao mês ao trabalho no
orfanato do centro, não é porque seja menos compromissado com a sociedade do
que o voluntário de meia-idade que vai toda semana fazer a mesma tarefa. Ele apenas pode ter outras tarefas para
cumprir, como estudar, estar com os amigos, praticar esportes, viajar com a
família ou simplesmente ser jovem. Precisamos compreender essa nova dinâmica
social.
É verdade que os jovens são chamados “trouble makers” (criadores de problemas), mas é exatamente essa que
é a nossa necessidade, em especial nas casas espíritas. Isso é uma boa notícia
para a nossa evolução. Para não nos tornarmos obsoletos no nosso próprio mundo
e na nossa própria época. Precisamos de maturidade espiritual para aproveitar
todos esses “problemas” apresentados e trazidos
para nossa zona de conforto, para garantirmos a continuidade do movimento espírita,
por meio da modernização das práticas sociais e consolidação inovações nos
modelos pedagógicos de estudos doutrinários.
Lembremos que Jesus também foi considerado pela
sociedade de sua época, um criador de problemas. Nosso Mestre curava aos
sábados e se hospedava na casa de cobradores de impostos, o que já era mais do que
suficiente para escandalizar os sacerdotes e religiosos. Giordano Bruno foi
considerado “trouble maker” porque
discordou da Igreja e falou que a Terra não era o centro do universo. Kardec
também foi um “trouble maker” para os
espiritualistas americanos, quando a Doutrina Espírita apresentou a
reencarnação e a igualdade entre senhores e escravos, perante as leis de Deus.
Os trouble
makers são necessários para a evolução do mundo e da sociedade. Sem a
provocação bondosa e fraterna, não há ruptura e avanço espiritual.
Por isso, precisamos estar atentos para não
falharmos como líderes nesse processo de aceleração da Nova Era, como falei no
meu último artigo aqui no blog. Em especial aqueles que são dirigentes das
casas espíritas, têm o compromisso de preparar os sucessores para continuarem a
missão de alavancar o progresso do nosso mundo. Não daqui a 20 anos: AGORA!
Como
falou o codificador: sabemos que o Espiritismo é o caminho que conduz à
renovação, porque acaba com os dois maiores obstáculos que a ela se opõem: a
incredulidade e o fanatismo.
Ultimamente, temos visto empresas, escolas,
universidades e grandes instituições, se movimentando e se adaptando para
atrair talentos dessas novas gerações, com o objetivo de garantir a
continuidade de seus produtos e serviços. Essas organizações estão em busca de
se conectar ao mundo atual e se preocupam em não perder a própria relevância. Nós precisamos seguir o exemplo deles e fazer
o mesmo em nossas instituições e eventos doutrinários.
Se eu pudesse, humildemente, apontar uma tarefa
como a mais importante para que o movimento espírita eleja como foco para os
próximos cinco ou dez anos, eu resumiria no esforço para responder sim para a
pergunta que eu faço novamente:
Estamos preparados para receber o jovem
Emmanuel reencarnado, com seu smartphone
na mão e querendo modernizar o youtube
do nosso centro?
Ao fazer essa pergunta novamente, acredito que oficialmente
entramos na lista dos trouble makers.
Contudo, tenho certeza que após uma breve reflexão coletiva, seremos absolvidos e chamados também de “problem
solvers”**.
(1) Big data é um termo que descreve o grande
volume de dados — tanto estruturados quanto não-estruturados — que sobrecarrega
as empresas diariamente
(2) habilidades ou capacidades relacionadas com a
inteligência emocional, com as habilidades mentais de cada pessoa.
(3) são moedas virtuais modernas.
(4) Tradução livre: resolvedores de problemas
Jaime Ribeiro
23/09/2018.
Jaime Ribeiro é natural de Recife.
Espírita desde a adolescência, é autor e palestrante. Trabalha como
executivo da área de educação. É engenheiro químico formado pela Universidade
Católica de Pernambuco e pós-graduado em marketing pela Fundação Getúlio Vargas,
no Rio de Janeiro. Escreveu Dora, seu primeiro livro infantil, que aborda as
habilidades socioemocionais para as crianças, usando a adoção animal como
instrumento. Também é autor do livro Empatia – Por que as pessoas empáticas
serão os futuros líderes do mundo? Que aponta a empatia como a habilidade que
será mais valorizada pela sociedade, em um mundo cada vez mais dominado pela
tecnologia e com maior fragilidade de laços entre as pessoas.