AS MORTES EMOCIONAIS
O auto extermínio não ocorre de um momento para o outro.
O suicídio antes de acontecer é permeado por outras mortes que vão tecendo as malhas depressivas que gradativamente envolvem o jovem ou o adulto.
Um ato de desespero dessa ordem vai acontecendo primeiramente na alma do suicida.
Ele vai sepultando suas esperanças e sendo abatido lentamente por fatores exógenos.
Não temos como sondar o coração das pessoas, por mais que acreditemos que essa ação devastadora não encontre explicação, pois muitos julgam esse ato uma atitude covarde.
Frustrações, expectativas, complexos variados e dificuldades no campo sexual são alguns dos componentes que enredam a criatura humana em pensamentos suicidas.
Percebe-se com muita clareza que a alma humana que fundamenta seus valores, apenas nos prazeres medíocres que o mundo vende não tem estrutura psicológica para se manter equilibrada ante a gangorra dos ciclos da vida nesses tempos.
O egoísmo entronizado no coração da mole humana, o hedonismo adotado como pedagogia de vida.
Egoísmo e prazer, fatores de grande poder de destruição do psiquismo daqueles que não conseguem entender que a vida primeiramente é tudo aquilo que cultivamos dentro de nós.
Famílias e mais famílias são arrebatadas pelo tsunami da vida voltada apenas para os valores perecíveis da matéria.
O homem moderno está doente, preso a um padrão comportamental enfermiço.
É a febre do ter, ter cada vez mais para preencher a falta de valores que minimamente apascentem as inquietações do espírito.
Quanto mais a incerteza toma conta das mentes, mais o vazio cresce e é preciso beber a água da ilusão, que é salgada e consequentemente não sacia o ser espiritual.
Famílias abastadas onde não falta absolutamente nada em termos material, veem seus filhos atirarem-se dos arranha céus num voo que reflete o grande grito de socorro.
A dor interna é tamanha que é preciso aniquilá-la de qualquer jeito.
Precisamos urgentemente de mais humanidade entre nós.
Aprender o valor da compaixão, disseminar o exemplo de ser bom e digno.
Essas ações nascem no coração do homem a partir dos próprios lares.
A indiferença com o semelhante desconhecido também mata quando somos ausentes da vida dos que comungam o mesmo teto que nós.
Todos os dias chegam notícias de jovens que creem voar para o nada suicidando-se e nesse gesto deixam um rastro de perplexidade para os que ficam.
É preciso prestar atenção nas pequenas mortes emocionais que ocorrem ao nosso lado, para prevenir dores maiores.
O suicídio pode ser evitado, evitando-se a indiferença com a dor emocional alheia.
O que pode parecer pueril aos nossos olhos, por vezes é momento devastador na vida dos que convivem conosco.
Nosso amor e compaixão podem "ressuscitar" corações queridos das imperceptíveis e pequenas mortes desses tempos de desamor.
Adeilson Salles
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