Nas relações humanas, aplicadas nos
diversos grupos sociais, a maioria de nós admira as pessoas cujo senso moral
caracteriza-se como justo, amoroso e caridoso. Nosso coração enche-se de
alegria ao lado de alguém que é capaz de agir integralmente no bem, sendo
coerente com os princípios de justiça.
Observemos
o exemplo de Irmã Dulce, a missionária católica que aplicou em sua vida a
teoria e a prática do amor que é justo, porque age sem outro móvel se não a
caridade. No movimento espírita, encontramos Francisco Cândido Xavier, que
exerceu puramente as relações com o semelhante, aplicando a justiça do amor,
tanto quanto a caridade que não se dissimula na hipocrisia da esmola. No
movimento evangélico, temos o exemplo de Martin Luther King, com sua luta pela liberdade e
igualdade entre todos. Em todos os segmentos sociais e religiosos iremos
encontrar uma personagem que não mediu esforços para exemplificar o conceito e
os princípios do Homem de Bem.
Quando
Allan Kardec esclarece que o “verdadeiro Homem de Bem é aquele que pratica a
lei de justiça, de amor e caridade”, ele apresenta pontos cruciais para
iniciarmos nossa reflexão. A primeira delas diz respeito à dualidade que
vivemos intimamente: nossos lados sombra e luz que habitam em nossa essência. O
lado sombra refere-se ao “Homem Velho” que representa “os valores perecíveis do
mundo das ilusões”, tornando como legítimo, justo e verdadeiro os conceitos e
posicionamentos contraditórios, tais como o do “amor condicional”.
Diante
dessa dualidade, como o bem pode se fixar? É preciso abandonar os preconceitos
que matam para que nos aproximemos um pouco mais da essência de Jesus, que amou
a todos de forma incondicional. Por isso, que os valores imortais nos convidam
a novas reflexões e posicionamentos. Nasce, nesse instante, “o Homem Novo ou
Renovado”, que avalia a extensão da vida nos aspectos que superam os dogmas e
os preconceitos.
Esse
verdadeiro Homem de Bem é vigoroso e ativo, não teme as opiniões contrárias,
pois confia muito mais no exemplo de Jesus, que na falsa moralidade dos que se
dizem representante de Deus na Terra. É atuante e preocupa-se com os valores
éticos, sociais e ambientais, muito mais que nas velhas fórmulas de caducas
religiões ou de novos conceitos religiosos estabelecidos “verdadeiros”, mas que
não “remendos novos em panos velhos”. Compreende que fazer justiça não
significa novas leis punitivas ou novos métodos de castigo. Ao contrário,
observa que se todos praticassem o “Amai-vos uns aos outros”, tudo seria mais
simples, porque não haveria mais injustiça de tanta ordem espalhada pelo mundo.
Nesse
sentido, o Homem de Bem ama a todos mais que a si mesmo. Isso não significa dizer,
contudo, que ele não se preocupa consigo. Pelo contrário. Ele sabe que sua
evolução é o resultado de seus esforços e cuidados que deve ter com a mente e o
com corpo, buscando o equilíbrio em tudo que faz. Pratica a caridade na sua
mais completa concepção, mas não se descuida de ser caridoso para consigo,
amando-se tanto quanto ama o seu semelhante, aceitando-se, tanto quanto aceita
as características distintas de seus irmãos. Utiliza-se dos bens materiais sem
ser escravo desses, pois sabe que o maior patrimônio do Homem é a sua liberdade
integral (física, moral, espiritual, social e emocional). Luta por ela, não
aceitando injustiça de nenhuma ordem, pois como cidadão atua pelo
desenvolvimento economicamente justo, socialmente inclusivo e ecologicamente
sustentável. Não persegue os seus opositores, pois entende que todos somos irmãos,
mas combate de forma respeitosa ideias contrárias aos valores integrais de uma
sociedade livre e próspera.
O
verdadeiro Homem de Bem compreende que ser justo implica em ser amoroso na
teoria e na prática para com todos, não agindo de forma arrogante, egoísta e
orgulhosa quando expõe suas ideias e demonstra seu ideal. Entende que fazer o
bem implica em uma série de atitudes que vão além do sentido religioso. Uma
delas é transformar a oração na ação diária, no “arar” para que o bem em sua
mais completa conceituação se fixe nos corações dos homens por meios dos bons
exemplos.
O Homem
de Bem que devemos nos tornar luta pela implantação do Reino de Deus dentro do
coração, pois compreende que é o primeiro ambiente a exercer um contínuo
combate, superando as divergências que ainda possam existir. Para viver
integralmente a sua vida, não obstante aos desafios que carrega no íntimo,
trava feroz batalha com as forças atrasadas do passado, que ainda teimam em
corrompê-lo, oferecendo as aparências da felicidade.
Compreende, ainda, que Deus nos quer
ativos, fazendo com que ajudemos os semelhantes por meio de outros semelhantes,
fortalecendo uma robusta cadeia de valor moral, que produz efeitos em todo o
sistema social que nos inserimos. Diante da fome, da violência, das desgraças
sociais, o verdadeiro Homem de Bem não credencia a fatalidades ou ao “desejo do
Pai”. Ao contrário, percebe que tem responsabilidades e arregaça as mãos para
fazer a sua parte, por menor que seja. Não teme as consequências do seu ato de
amor pela coletividade e luta para que seu exemplo possa representar a Vontade
do Senhor.
Por
fim, como fiel depositário do amor de Deus, o Homem de Bem executa a Lei de
Amor sem dogmas e faz com que as palavras do Mestre Jesus estejam vivas em sua
mente e em suas ações. Não apregoa a verdade em tribunas humanas, mas a vive
diariamente praticando o amor e o perdão, caminhos pelos quais percorre para
chegar livre ao seio do Criador.
Marcos Alencar
É coordenador de comunicação e cultura espírita da
Casa da Caridade de Maceió/AL. Como médium, publicou, pela Intelitera Editora,
o romance Uma Chance para o Perdão.Artigo publicado na Revista Cristã de Espiritismo, edição 130. Para adquirir essa e outras edições, acesse o link:
http://www.rcespiritismo.com.br/index.php?option=com_virtuemart&Itemid=115
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