quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

O HOMEM DE BEM - MARCOS ALENCAR


Nas relações humanas, aplicadas nos diversos grupos sociais, a maioria de nós admira as pessoas cujo senso moral caracteriza-se como justo, amoroso e caridoso. Nosso coração enche-se de alegria ao lado de alguém que é capaz de agir integralmente no bem, sendo coerente com os princípios de justiça.
            Observemos o exemplo de Irmã Dulce, a missionária católica que aplicou em sua vida a teoria e a prática do amor que é justo, porque age sem outro móvel se não a caridade. No movimento espírita, encontramos Francisco Cândido Xavier, que exerceu puramente as relações com o semelhante, aplicando a justiça do amor, tanto quanto a caridade que não se dissimula na hipocrisia da esmola. No movimento evangélico, temos o exemplo de Martin Luther King, com sua luta pela liberdade e igualdade entre todos. Em todos os segmentos sociais e religiosos iremos encontrar uma personagem que não mediu esforços para exemplificar o conceito e os princípios do Homem de Bem.
            Quando Allan Kardec esclarece que o “verdadeiro Homem de Bem é aquele que pratica a lei de justiça, de amor e caridade”, ele apresenta pontos cruciais para iniciarmos nossa reflexão. A primeira delas diz respeito à dualidade que vivemos intimamente: nossos lados sombra e luz que habitam em nossa essência. O lado sombra refere-se ao “Homem Velho” que representa “os valores perecíveis do mundo das ilusões”, tornando como legítimo, justo e verdadeiro os conceitos e posicionamentos contraditórios, tais como o do “amor condicional”.
            Diante dessa dualidade, como o bem pode se fixar? É preciso abandonar os preconceitos que matam para que nos aproximemos um pouco mais da essência de Jesus, que amou a todos de forma incondicional. Por isso, que os valores imortais nos convidam a novas reflexões e posicionamentos. Nasce, nesse instante, “o Homem Novo ou Renovado”, que avalia a extensão da vida nos aspectos que superam os dogmas e os preconceitos.
            Esse verdadeiro Homem de Bem é vigoroso e ativo, não teme as opiniões contrárias, pois confia muito mais no exemplo de Jesus, que na falsa moralidade dos que se dizem representante de Deus na Terra. É atuante e preocupa-se com os valores éticos, sociais e ambientais, muito mais que nas velhas fórmulas de caducas religiões ou de novos conceitos religiosos estabelecidos “verdadeiros”, mas que não “remendos novos em panos velhos”. Compreende que fazer justiça não significa novas leis punitivas ou novos métodos de castigo. Ao contrário, observa que se todos praticassem o “Amai-vos uns aos outros”, tudo seria mais simples, porque não haveria mais injustiça de tanta ordem espalhada pelo mundo.
            Nesse sentido, o Homem de Bem ama a todos mais que a si mesmo. Isso não significa dizer, contudo, que ele não se preocupa consigo. Pelo contrário. Ele sabe que sua evolução é o resultado de seus esforços e cuidados que deve ter com a mente e o com corpo, buscando o equilíbrio em tudo que faz. Pratica a caridade na sua mais completa concepção, mas não se descuida de ser caridoso para consigo, amando-se tanto quanto ama o seu semelhante, aceitando-se, tanto quanto aceita as características distintas de seus irmãos. Utiliza-se dos bens materiais sem ser escravo desses, pois sabe que o maior patrimônio do Homem é a sua liberdade integral (física, moral, espiritual, social e emocional). Luta por ela, não aceitando injustiça de nenhuma ordem, pois como cidadão atua pelo desenvolvimento economicamente justo, socialmente inclusivo e ecologicamente sustentável. Não persegue os seus opositores, pois entende que todos somos irmãos, mas combate de forma respeitosa ideias contrárias aos valores integrais de uma sociedade livre e próspera.
            O verdadeiro Homem de Bem compreende que ser justo implica em ser amoroso na teoria e na prática para com todos, não agindo de forma arrogante, egoísta e orgulhosa quando expõe suas ideias e demonstra seu ideal. Entende que fazer o bem implica em uma série de atitudes que vão além do sentido religioso. Uma delas é transformar a oração na ação diária, no “arar” para que o bem em sua mais completa conceituação se fixe nos corações dos homens por meios dos bons exemplos.
            O Homem de Bem que devemos nos tornar luta pela implantação do Reino de Deus dentro do coração, pois compreende que é o primeiro ambiente a exercer um contínuo combate, superando as divergências que ainda possam existir. Para viver integralmente a sua vida, não obstante aos desafios que carrega no íntimo, trava feroz batalha com as forças atrasadas do passado, que ainda teimam em corrompê-lo, oferecendo as aparências da felicidade.
             Compreende, ainda, que Deus nos quer ativos, fazendo com que ajudemos os semelhantes por meio de outros semelhantes, fortalecendo uma robusta cadeia de valor moral, que produz efeitos em todo o sistema social que nos inserimos. Diante da fome, da violência, das desgraças sociais, o verdadeiro Homem de Bem não credencia a fatalidades ou ao “desejo do Pai”. Ao contrário, percebe que tem responsabilidades e arregaça as mãos para fazer a sua parte, por menor que seja. Não teme as consequências do seu ato de amor pela coletividade e luta para que seu exemplo possa representar a Vontade do Senhor.
            Por fim, como fiel depositário do amor de Deus, o Homem de Bem executa a Lei de Amor sem dogmas e faz com que as palavras do Mestre Jesus estejam vivas em sua mente e em suas ações. Não apregoa a verdade em tribunas humanas, mas a vive diariamente praticando o amor e o perdão, caminhos pelos quais percorre para chegar livre ao seio do Criador.

Marcos Alencar
É coordenador de comunicação e cultura espírita da Casa da Caridade de Maceió/AL. Como médium, publicou, pela Intelitera Editora, o romance Uma Chance para o Perdão.







Artigo publicado na Revista Cristã de Espiritismo, edição 130. Para adquirir essa e outras edições, acesse o link:

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