Valter dos Santos, jovem escritor brasileiro que fez
sucesso nos EUA e na Inglaterra com seu primeiro romance espírita, fala sobre
as dificuldades que passou após o desencarne de sua mãe, durante a infância, e
de seu novo livro – Borboletas no jardim
– publicado pela Intelítera Editora.
Você foi
entrevistado no dia 1º de Janeiro deste ano por Ana Maria Braga, no programa
Mais Você da Rede Globo e, em sua entrevista, você contou sobre a desencarnação
de sua mãe. Qual era a sua idade quando ela desencarnou?
Valter dos
Santos: Eu tinha apenas oito anos
de idade quando ela desencarnou. Minha mãe era jovem, tinha apenas trinta anos
e era também muito saudável e pegou todos nós de surpresa. Ficamos eu, meu pai,
que estava no último ano da faculdade de direito, e minha irmã, na época com
cinco anos de idade.
E como
ficou a sua vida e da sua família após a desencarnação dela?
Nossa vida mudou totalmente. Fomos dormir no domingo à
noite como uma família unida e feliz e acordamos na segunda-feira pela manhã
com a notícia de que mamãe estava em coma no hospital. Meu pai chegou contando
que no meio da noite ela levantou da cama sentindo uma dor de cabeça muito
forte. Ela foi ao chão e em seguida socorrida pelo meu pai. Foi então
descoberto que ela tinha um aneurisma que acabou se rompendo naquela noite. Ela
desencarnou após ficar quatro dias em coma. Foi tudo muito rápido, muito
brusco.
Com apenas oito anos de idade, eu me vi tendo que
cuidar da casa. Ajudava meu pai nas compras, ia ao banco pagar contas e também
cuidava de minha irmãzinha. Levava-a à escola e cheguei a frequentar reuniões
de pais e mestres. Acabei por tomar as rédeas da situação e cuidar da família.
Você conta
na entrevista que recebeu ajuda espiritual de sua mãe, já desencarnada, e do
seu avô. Como foram estas experiências?
Tive uma infância dura, sem muitas alegrias. Embora
meu pai, minha irmã e eu fôssemos unidos e nos amássemos muito, era como se
essa nuvem de tristeza devido à perda da minha mãe pairasse sempre pelo ar. Eu
sufoquei meus sentimentos, por muitos anos, pois pensava que não tinha o
direito de me sentir triste. Não podia expressar minha tristeza, pois entristeceria
meu pai e minha irmã ainda mais.
Meu pai casou-se novamente e foi, então, que, no final
da adolescência, toda essa tristeza acumulada durante anos, veio à tona e eu
caí em uma forte depressão. Não queria
mais sair de casa, não queria ver ninguém. Perdi a fé em Deus e só conseguia
pensar em pôr fim à minha vida. Tentei suicídio várias vezes. Algumas vezes
minha família presenciou e me socorreu e outras tentativas foram feitas sem que
ninguém ficasse sabendo.
Foi então que eu fiz um plano infalível para me
suicidar. Planejei tudo com muito cuidado e, foi na tarde de um sábado de
Carnaval, que eu coloquei meu plano em prática. Minha família tinha viajado e
só voltaria no final do feriado. Assim que vi o carro partir, eu tomei duas
garrafas de bebida alcoólica e muitos comprimidos de barbitúricos. Eu entrei em
coma e fiquei desacordado por vários dias. Quando acordei, no final da
terça-feira de Carnaval, eu estava na cama do meu pai. Ouvi a voz da minha mãe
e de um outro homem. Quando minha visão melhorou, eu vi então minha mãe e meu
avô, Benedito, que desencarnou no ano que eu nasci. Eles brilhavam muito. Tinham muita luz. Recordo-me
claramente quando minha mãe disse a ele: “Ele já está bem. Podemos ir.” Eu,
então, lembrei que minha mãe e meu avô, em espírito, estiveram ao meu lado
durante todos aqueles dias em que fiquei desacordado. Eles cuidaram de mim.
Quando eles se foram, eu imediatamente levantei da
cama e me ajoelhei no chão. Chorando, eu agradeci a Deus por ter me dado aquele
presente. Pedi perdão a Deus por aquele ato que cometi contra o presente que me
foi dado, o presente da vida.
Você está
curado da depressão?
Sim. Desde aquela noite, em que vi o espírito de minha
mãe e de meu avô, posso dizer que fui curado. Nunca mais tive um momento de
desespero em minha vida. Estou livre da depressão há mais de treze anos.
E como foi
que nasceu a história de escrever livros?
Eu sempre quis ser um escritor. Na infância lembro que
todas as minhas redações eram lidas pelas professoras em voz alta para toda a
classe e isso me deixava muito feliz. Meus colegas de turma esperavam ansiosos
para escutarem as minhas histórias. Escrevi algumas peças teatrais na adolescência
e contos, mas parei com a escrita quando mudei para Londres. Aqui, o começo de
vida é muito difícil, requer muito trabalho e, por isso, não encontrava tempo
para escrever.
Foi, então, que uma amiga inglesa perdeu sua mãe, vítima
de câncer. Ela ficou inconsolada. Muito triste e deprimida, pois eram muito
amigas. Eu quis muito ajudá-la e explicar a ela mais sobre o Espiritismo. Ensiná-la
que a vida nunca acaba.
Foi então que um dia me sentei na cafeteria ao lado do
apartamento onde moro e abri meu laptop. Em vez de entrar na internet, como é
habitual, eu abri o Word e comecei a escrever. Escrevi por mais de uma hora,
sem parar. Depois de muito escrever, me dei conta de que tinha escrito o
primeiro capítulo de um livro. Eu me dediquei a escrever aquele livro, em inglês,
para mostrar a ela, através de um romance espírita, que nós não morremos.
Aconteceu que eu acabei por publicar aquele livro nos
Estados Unidos e na Inglaterra e ele chegou a primeiro lugar em vendas em ambos
países.
Você está
lançando o seu segundo livro, o romance Borboletas
no jardim, fale um pouco sobre ele.
Meu primeiro romance tinha acabado de ser publicado
quando desembarquei em Miami para passar as férias. Ainda estava sob efeito da
alegria de ter publicado o livro na Europa e nos Estados Unidos. É o tipo de
entusiasmo que nos faz sentir como se fôssemos crianças novamente.
No dia seguinte, estava à beira da piscina quando meus
amigos da Inglaterra me mandaram uma mensagem de texto pelo celular. Era para
dizer que meu primeiro romance estava em primeiro lugar na lista de best-sellers do site de compras e vendas
norte-americano Amazon. Não consegui
acreditar. Fiquei muito feliz e também grato a Deus por aquela conquista.
No mesmo instante, me ajoelhei, fechei os olhos e
agradeci a Deus por aquela bênção. E pensei: “Senhor, se é de sua vontade que eu escreva outro romance, peço que me
envie inspiração”.
E não podia ter recebido mensagem mais direta de Deus.
Naquela noite, quando me deitei para dormir, tive a sensação de voltar no
tempo, mais precisamente para o século XV.
Você então teve uma
visão da vida passada de alguns personagens do livro, correto?
Sim. Assim que me deitei na cama, eu vi uma imagem.
Eram duas mulheres cavalgando rápido, fugindo de alguém ou de alguma coisa.
Senti que estavam com muito medo. Logo atrás vinham homens, também cavalgando com
rapidez, que logo as alcançaram, capturaram e torturaram de maneira horrível,
como descrevo mais adiante.
Quando a visão terminou, eu estava sentado na cama,
ensopado de suor. Senti na pele o medo e o desespero daquelas mulheres e todos
os detalhes da cena, até mesmo o vento que soprava entre as árvores. Era a
inspiração que eu havia pedido. Durante os dias que estive em Miami, deparei
com cavalos por toda parte: em propagandas de revistas, lojas de decoração e
até camisetas de pessoas na rua. Não tive dúvida: meu novo romance teria que
contar a história sobre as duas mulheres daquela visão.
Assim como
você, uma das personagens principais da história também perde a mãe quando
pequena.
Exatamente. A pequena Katie perde a mãe com apenas
cinco anos de idade. Pensei muito na minha irmã Luciana enquanto escrevia a
história de Katie. Qual a dor de uma criança de apenas cinco anos de idade ao
perder a mãe? Tive que viajar muito no meu passado e no pasado da minha irmã
para contar a história da pequena Katie.
Como foi
ter que reviver estas dores de sua infância para poder escrever o livro?
A verdade é que não foi fácil. A Katie passa por
muitos momentos difíceis na história, momentos que são muito pessoais para mim.
Muitos momentos pelos quais ela passa no livro, eu e minha irmã de alguma forma
também passamos. Muitas vezes, a emoção era tanta ao escrever, que lágrimas
escorriam de meus olhos sem parar.
Existem
outros temas muito pessoais a você no livro, correto?
Sim. Além da perda de uma mãe vivenciada por uma
criança, eu também falo de uma outra personagem, a jovem Rebecca, que sofre de
depressão e vivencia um problema muito triste, porém cada vez mais comum: a automutilação.
A Rebecca é uma jovem sem autoestima nenhuma. Sem amor
próprio e sem vontade de viver, ela comete em várias experiências de vida a automutilação.
Com essa personagem, eu tenho a oportunidade de falar com os jovens, explicar
um pouco sobre a depressão, suas causas e suas consequências, tanto no plano
material quanto no plano espiritual.
Todos os personagens têm um pouco do autor - ou o
autor tem um pouco de seus personagens. Só sei que em Borboletas no jardim existem muitas histórias pessoais que decidi
narrar e dividir com os leitores como forma de alerta e também aprendizado e
ensinamento.
No livro
fica claro que as borboletas são enviadas pela mãe de Katie para que ela se
alegre e sinta que está sendo cuidada. Quem são as suas borboletas, ou melhor,
quem foram as suas borboletas?
Eu, graças a Deus, tive muitas borboletas em minha
vida. Tive amigos maravilhosos que são como família para mim. Porém, eu digo
que uma das maiores e mais bonitas borboletas em minha vida é a minha irmãzinha
caçula, filha do segundo casamento de meu pai. Mariane chegou em nossas vidas
em um momento de muita tristeza. Eu estava no auge da minha depressão. Nossa
família estava conturbada. Lembro que no caminho de casa ao trabalho, eu parava
e ia até a igreja Católica de São Luiz Gonzaga, ali na Avenida Paulista, em São
Paulo, e pedia a Deus que me enviasse uma irmãzinha. Eu imaginava que quando
ela chegasse, nossas vidas melhorariam. Sabia que ela traria paz e harmonia a
nossa casa. Orei e pedi por ela por
muitos meses. Logo veio a notícia de que minha madrasta estava grávida e, nove
meses depois, ela nasceu, igualzinha à que eu tinha sonhado e muitas vezes
imaginado. Mariane trouxe consigo a paz e o brilho que faltava em nossas vidas.
Ela é, sem dúvida nenhuma, uma das mais lindas borboletas em minha vida.
Entrevista publicada na Revista Cristã de Espiritismo,
edição 138.
Adquira já nas bancas ou pelo site: http://goo.gl/2h9NhP
Bom dia! Após sonhar com minha mãe,que faleceu ano passado, escutei da boca dela o nome " valter", fui pesquisar e achei você. Incrível o acontecimento, foi o câncer que a levou eu de três filho fui o mais forte. Sou Rafael Farias de Gravataí RS.
ResponderExcluirGrande abraço.