O
Chico sempre foi uma pessoa atenciosa e carinhosa para todos que batiam à sua
porta em busca de uma palavra de consolo e conforto espiritual. Atendia a todos
sem distinção, pois, além de ser uma pessoa humilde, era uma pessoa
extremamente educada e atenciosa, porque a dor da alma não tem classe social.
Infelizmente,
ainda existem pessoas que se acham superiores às demais. Fazem questão de
ostentar sua superioridade por meio de um diploma, de uma roupa mais
requintada, de sua posição social mais privilegiada, de um carro do último
tipo, de uma conta bancária recheada. Na presença de criaturas mais simples,
simplesmente as ignoram, porque se acham melhores que os demais, então, para
que perder tempo com simples miseráveis? Há pessoas que ainda pensam e agem assim,
infelizmente. A minoria, felizmente.
Com
o Chico era diferente: quando recebia a visita de pessoas mais simples da
periferia, era fácil verificar em sua fisionomia a expressão de carinho
especial e o respeito que dedicava àqueles irmãos em situação material menos
favorável. Os pobres e os simples de coração não tinham receio de procurar o
Chico, porque sabiam que não seriam desprezados, nem discriminados por aquele
homem que ostentava sempre um sorriso nos lábios, apesar dos problemas, e que
esquecia suas próprias dores para cuidar das dores do mundo!
Na
década de 1960, havia um rapaz que se tornara um frequentador assíduo do
Centro: seu nome era Jorge.
Jorge
era uma pessoa cuja idade cronológica não era compatível com sua idade mental.
Sempre sorrindo, trazia nos lábios o estigma de uma ferida crônica que sangrava
a cada sorriso.
Vivia
na periferia de Uberaba, andava descalço enfiado em roupas remendadas e
surradas. Muitas das pessoas que o conheciam riam e zombavam dele, mas o rapaz
não se importava, porque, em sua simplicidade, não tinha consciência da maldade
contida nos sorrisos de muitos. Talvez pela condição de pobreza e pela falta de
noção de higiene, apresentava dentes estragados e seu hálito às vezes chegava a
ser insuportável.
As
pessoas fugiam de Jorge. Os poucos que se dispunham a ajudá-lo estendiam a mão
à distância e se afastavam o mais rápido possível.
Entretanto,
apesar de sua simplicidade, Jorge era uma criatura de boa índole. Era educado e
sorria constantemente, exibindo um filete de sangue a escorrer por seus lábios
a cada sorriso.
Toda
vez que ia visitar o Chico, fazia questão de pegar a fila, na qual pessoas de
todos os quadrantes do país se encontravam em busca do conforto espiritual e de
uma palavra de consolo. Havia pessoas ricas, pobres, bem vestidas, outras mais
simples, algumas bacanas, outras mais modestas, mas cada qual com sua dor, com seu
problema, e o Chico dedicava a cada um o respeito e seu carinho tão peculiar.
Quando
o Jorge entrava na fila, verificava-se um pequeno tumulto: os que estavam à
frente se comprimiam, os que estavam atrás se distanciavam para não ficar
perto, formando uma pequena ilha. Jorge não se dava conta do que acontecia e,
por essa razão, sorria.
Algumas
pessoas reclamavam, outras resmungavam com a presença daquele jovem mal vestido
e, certamente, com algum odor menos agradável, de quem andou o dia todo e
transpirou muito.
Todavia,
quando o Chico olhava, todos sorriam. Queriam que Chico os visse sorrindo!
A
fila era sempre muito grande e as longas horas de espera eram verdadeiro
suplício para os impacientes, principalmente quando Jorge estava presente na fila
com suas roupas fedorentas e seu hálito desagradável. Se pudesse, Chico
dedicaria a cada um o tempo necessário para conversar, mas precisava ser rápido,
caridoso e objetivo, tendo sempre a palavra certa envolvida nas vibrações
amorosas de seu imenso coração. O atendimento durava um ou dois minutos, três
minutos nos casos mais complicados.
Todavia,
com o Jorge era diferente! Quando chegava a vez do jovem, o Chico se levantava
e o saudava com carinho:
—
Jorge! Que bom que você veio me ver!
O
rapaz exibia um largo e dolorido sorriso, e respondia:
—
Estava com saudades, Tio Chico!
—
Como vai a vida, Jorge? — perguntava Chico oferecendo um longo e apertado
abraço de boas-vindas ao visitante.
—
Ah, Tio Chico, a vida está uma beleza! — respondia o rapaz em sua simplicidade.
Sentavam-se,
e Chico, em evidente demonstração de carinho e respeito, ouvia atentamente
Jorge que soltava a taramela, tagarelando sem parar. Dizia que estava muito
feliz, falava do tempo, do calor, do frio, da chuva; contava da goteira em cima
de sua cama; que seu cachorro havia brigado com o cachorro do vizinho e que um
passarinho havia feito um ninho na cumeeira da casa. E o Chico ouvia com um
sorriso nos lábios. A conversa passava dos cinco minutos, às vezes, se
estendendo até dez minutos.
As
pessoas na fila ficavam impacientes, se remoíam, se coçavam, tossiam e alguns
sentiam até urticária. Porém, bastava o Chico estender um olhar para a fila que
todos sorriam...
Depois
do longo falatório, Chico se levantava e, com um largo sorriso, agradecia a
visita. Mas ainda havia algo a acrescentar a respeito do amigo. Chico se
voltava ao público e, talvez tendo visões de vidas passadas de Jorge, anunciava:
—
Pessoal, nosso querido Jorge é um poeta!
A
verdade é que, estimulado por Chico, Jorge havia rabiscado algumas rimas e,
sempre que podia, o generoso anfitrião o prestigiava:
—
Jorge, antes de ir embora, por favor, recite aquela poesia que mais gosto.
—
Qual, Tio Chico? — perguntava Jorge.
—
Aquela dos cabelos da menina.
—
Ah! Já sei qual é, Tio Chico.
E,
voltando-se para o público, Jorge estufava o peito e soltava a voz:
Menina
penteia os cabelos
Joga
as tranças na cacunda
Queira
Deus que não te leve
De
domingo pra segunda
As
pessoas riam muito, antevendo o final do suplício depois da longa espera. Antes
de ir embora, Chico abraçava mais uma vez o rapaz que, a meio palmo do nariz do
anfitrião, ainda dizia uma porção de palavras e em seguida tascava um beijo no
rosto do Chico, deixando lá estampada a marca rósea de sangue dos seus lábios.
Nos
anos em que Jorge frequentou o Centro, ninguém jamais viu o Chico fazer um
recuo instintivo ou limpar o rosto após a saída de Jorge.
É
isto que fico eu pensando aqui com meus botões: é fácil sermos educados,
usarmos de cortesia, gentilezas, atenção e respeito nas empresas diante de um
chefe, de um gerente, de um diretor, de uma autoridade, de uma celebridade, de
um bacana ou mesmo de pessoas do nosso nível social.
Todavia,
sermos condescendentes, educados, gentis, atenciosos e respeitosos para com
aquelas pessoas mais simples é muito difícil.
Esta
era a diferença do Chico.
Isso
que significa humildade como conquista espiritual, porque é espontânea e
natural.
Quantas
pessoas chegam ao trabalho e sequer se dignam a cumprimentar as pessoas mais
simples, como a faxineira, o porteiro ou mesmo a recepcionista, com um singelo
“bom dia”. São aquelas pessoas que se tornam “invisíveis”, porque há aquelas
que se julgam importantes, que passam rápido com o nariz empinado e sequer
notam sua existência.
Por
essa razão, sentimos saudades do Chico. Alguém poderia dizer: — Então, o Chico
era uma pessoa especial? Um enviado dos céus? Um espírito evoluído proveniente
das esferas mais elevadas? Um anjo encarnado na Terra?
Não, apenas Francisco
Xavier ou, como ele mesmo se autodenominava, “Cisco Xavier”!Texto extraído do livro Nas Bênçãos de Chico Xavier, do consagrado médium Antonio Demarchi.
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Antonio Demarchi
Um bom dia seu Chico.
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