Um dos colégios mais tradicionais de São Paulo, Colégio Bandeirantes, tomou medidas emergenciais porque dois alunos se suicidaram com diferença de poucos dias.
É importante louvar a iniciativa da escola que propõe a abordagem do assunto com muita responsabilidade sem empurrar para baixo do tapete essa triste realidade.
A escola é reconhecida como uma das que alcança os melhores índices de aprovação nas mais conceituadas universidades do país e no exterior.
Aparentemente o mundo perfeito, para os que focam e pensam apenas na formação acadêmica.
Recentemente estive em uma escola em que os jovens do 9º Ano revelaram através das perguntas que me faziam, e das lágrimas que derramaram durante a minha fala, o sofrimento que experimentavam em suas vidas.
A situação foi tão comovente que a diretora me disse ao final da palestra: "Eu não imaginava que nosso colégio fosse palco de tantos conflitos".
A miséria moral desses dias está presente tanto num colégio de pessoas abastadas como o Bandeirantes, como nas escolas municipais e estaduais abandonadas pelo descaso dos governantes.
As dores permeiam o mundo juvenil nesses tempos, onde escasseiam as referencias positivas a partir dos lares.
Desde a ausência dos pais, onde muitos ainda acreditam que educar é prover o corpo e se manter ausente da vida dos filhos.
Casos de abuso sexual, conflitos na área da sexualidade, desagregação familiar, violência doméstica, alcoolismo e etc...
Diante disso tudo, o que fazer?
Tenho proposto nas escolas a criação de um departamento de escutatória, onde os jovens pudessem abrir o coração. Sem que o interlocutor ditasse normas ou recriminasse a conduta do garoto e da garota.
Sem ouvir, não podemos auxiliar, é preciso ganhar a confiança dos jovens, mas indo ao encontro dos anseios deles para propor-lhes um novo proceder e um outro olhar sobre a própria dor.
Nada de levar nossa forma de ver a vida e nossos conceitos como fórmula para a felicidade, isso é um equívoco.
A questão dos jovens muitas vezes é de solidão emocional em sua grande maioria.
Muitos me falam da falta de sentido para a vida e é nessa hora que a família pode fazer a diferença.
Eu só educo verdadeiramente quando sou agente honesto da minha fala, ou seja, quando exemplifico.
Já vai longe o tempo, felizmente, em que a educação era uma via de mão única, onde o educando não podia abrir a boca para falar.
Precisamos conversar com nossos filhos, prestar atenção neles, pois eles sinalizam claramente o que se passa em suas almas.
Alguém pode alegar que está presente na vida dos filhos, mas podemos indagar se essa presença tem qualidade de fato.
O suicídio juvenil é a segunda causa de morte entre os jovens do mundo e essa tragédia é um sinal claro de que não estamos acessando o coração dos nossos jovens a ponto de dar a eles confiança e sentido para suas frágeis vidas.
Se você é pai e mãe nesses tempos desafiadores a sugestão, é que esteja presente de fato na vida dos seus filhos e preste atenção neles em todos os momentos.
Acompanhe sem sufocar ou reprimir o que eles postam nas redes sociais, as companhias na escola, no clube...
A prevenção de qualquer mal passa pela ação efetiva do amor a se manifestar pelo interesse genuíno e responsável pela vida dos nossos jovens.
Os pais também estão necessitando de orientação para acessar o coração dos filhos, porque em algum ponto da caminhada eles "soltaram" a mão das suas crianças.
Não existem pais culpados e filhos inocentes, mas todos nós precisamos revisitar os nossos conceitos de família para o equilíbrio das nossas relações.
Somos todos convidados a conversar para conhecer, ouvir para descobrir de fato quem são os nossos filhos?
Adeilson Salles
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