No ano de 1931, apenas no início de sua grandiosa jornada literária, Chico estava psicografando belíssimos poemas que seriam depois publicados em 1932, com o título de Parnaso de Além-Túmulo.
Eram poesias belíssimas assinadas por Augusto dos Anjos, Casimiro Cunha, João de Deus, entre outros nomes de respeito e sobejamente conhecidos no meio literário.
Um amigo do Chico, embora católico, havia ficado extremamente impressionado com o conteúdo denso dos versos e das rimas que havia lido. Ao tomar conhecimento de que um conhecido escritor mineiro na ocasião se encontrava em Pedro Leopoldo, conseguiu agendar um encontro com o médium, falando sobre a importância de um escritor conhecido dar sua opinião sobre as poesias psicografadas.
Ainda muito inexperiente e considerando a importância do aval de um escritor de renome sobre o que escrevia, Chico se animou trajando a melhor roupa que possuía para melhor impressionar o “dito” escritor.
No dia e horário aprazado, lá estava o Chico enfiado em uma calça de linho branco e em uma camisa de brim com um calhamaço de escritos debaixo do braço. Ao chegar, o amigo o apresentou:
— Este é o médium que lhe falei.
O intelectual olhou Chico de cima para baixo, cumprimentou-o e, em seguida, sem mais delongas, começou a ler as poesias. Deteve-se um pouco mais em algumas poesias, outras passou rapidamente sem dar muita atenção e finalmente sentenciou:
— Tudo isso é bobagem!
Olhou novamente para a figura de Chico, que naquela altura estava extremamente constrangido, e cheio de empáfia, concluiu seu veredito:
— Este rapaz é uma besta!
Chico não sabia onde enfiar a cara de tanta vergonha, enquanto o amigo desenxabido ainda tentava argumentar:
— Mas, doutor, este rapaz é esforçado, tem boas intenções e abraça a Doutrina Espírita com convicção. É um médium espírita de valor!
Novamente o literato olhou Chico de cima para baixo e impiedosamente concluiu:
— Então é uma besta espírita!
E saiu sem dar mais atenção aos dois amigos, que ficaram olhando um para a cara do outro sem saber o que fazer. Chico foi embora muito agastado com aquela situação. Naquela noite durante a prece, sua mãezinha se apresentou. Ainda muito agastado, Chico não perdeu a oportunidade para ouvir um consolo de sua progenitora, que aparentemente parecia não estar a par do assunto. Chico, então, explicou a ela o ocorrido e esta, com um sorriso, respondeu:
— Não vejo motivo para você ficar chateado, meu filho.
— Ele me chamou de besta!
— E o que tem isso? — retrucou bem-humorada a mãezinha. — Besta é um animal muito útil e trabalha com disciplina, suportando o peso da carga com dignidade.
— Mas ele também me chamou de “besta espírita” — argumentou inconformado.
— Melhor ainda, meu filho! Imagine que você é uma besta a serviço do espiritismo, quanta carga haverá de suportar sem reclamar! Isto, sim, é importante, mas se a besta começar a dar coices para todo lado, ela deixa de ter serventia, será esquecida e deixada de lado.
Chico ficou pensativo com as palavras da mãe, que afagando seus cabelos, concluiu:
— Você não acha que fica bem assim? É melhor ser uma besta espírita que um “espírita besta”!
Antonio Demarchi
Texto do livro "Nas bênçãos de Chico Xavier"
Texto do livro "Nas bênçãos de Chico Xavier"
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Adorei.....muito Bom
ResponderExcluirChico com sua simplicidade nos deixa ensinamentos de alto valor moral.
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