“Que mundo é este em que
é preciso ser louco para fazer o que é certo?”
Aristides de Sousa Mendes
Em
maio de 1940, o mundo assistia impressionado a blitzkrieg nazista invadir a
França, levando preocupação sobre o futuro das nações européias poderosas.
Portugal foi um país que se declarou neutro, desde o início da Segunda Grande Guerra. Contudo, muitos historiadores afirmam que seu ditador fascista, Antonio de Oliveira Salazar, era simpático à Hitler e aos ideais nazistas. Tanto que em
novembro de 1939 ele publicou a famosa
circular 14, documento que proibia a emissão de vistos a judeus, russos e
apátridas, impedindo-os de entrar naquele país.
O mundo todo
já ouvia rumores do que estava ocorrendo com os judeus em países ocupados pelos
alemães nazistas. Por isso, após a invasão alemã da França, dezenas de milhares
de pessoas marcharam para o sul daquele país, dirigindo-se especialmente a
Bordeaux, deslocando-se de trem, carro, bicicleta e até mesmo a pé, muitos
deles empurrando carrinhos de bebês e carros de mão.
Naquela
cidade, residia o Consul Português Aristides de Sousa Mendes.
Notando que
multidões se aglutinavam na frente do consulado que ele dirigia, telegrafou a
Lisboa para receber instruções sobre o que fazer naquela situação particular. A
resposta foi categórica: “ que se cumpra a Circular 14”.
Alguns dias
depois, Paris foi ocupada. Aristides sentia-se cada vez mais torturado pelo
cenário de desespero daquelas almas humanas que assistia todos os dias.
Dirigiu-se para a praça onde ficava a grande sinagoga de Bordeaux, que estava
lotada de milhares de judeus, com o intuito de conversar com as pessoas e
entender o nível de angústia delas.
Na frente da sinagoga, ele conheceu Chaim Kruger, um jovem rabino polonês que
estava acompanhado com a sua família no meio da multidão.
Reconhecendo em Kruger um homem distinto,
ofereceu-se para ajudá-lo. Contudo, seu pedido de vistos para o rabino e sua
família foi rejeitado por Lisboa. Inconformado, Aristides prometeu ao novo
amigo que faria tudo que estivesse ao seu alcance para conseguir os seus
documentos.
Apesar de ter
ficado muito feliz com o gesto do cônsul, o rabino protestou. Alegou que não
era apenas ele que precisava de ajuda, mas todos que estavam ali correndo risco
de perder a vida.
Aristides
voltou para casa pensativo. Passou três dias trancado
no quarto, reflexivo e sem saber como ajudar. Estava
diante de um dilema ético profundo. Obedecer ao seu país ou salvar a vida de
milhares de pessoas iguais a ele, que corriam o risco de morrer pelas mãos
inescrupulosas do nazismo. Após aquele período de orações e reflexões, surgiu
com uma decisão segura e enérgica: "de agora em diante, darei visto a
todos eles", declarou no consulado. "Não haverá mais distinção de
nacionalidade, raça ou religião". "Não posso permitir que todas essas
pessoas morram".
Imediatamente,
começou a assinar todos os vistos que eram colocados na sua frente,
estabelecendo uma verdadeira linha de montagem de emissão daqueles documentos.
Juntaram-se a ele dois de seus filhos, o próprio rabino Kruger e mais alguns
diplomatas que foram convencidos por ele de que aquilo era o certo a ser feito
e de que ninguém deveria testemunhar e sentir a dor do outro e continuar
omisso.
O cônsul desobediente,
assinou freneticamente os novos vistos. Trabalhou dia e noite, por três dias
seguidos, sem sequer parar para dormir ou fazer uma refeição,
com o objetivo de salvar a maior quantidade possível de pessoas, antes que a
fronteira fosse fechada.
No final de
junho de 1940, Salazar ficou sabendo do que estava acontecendo no Sul da França
e mandou chamar Aristides de volta a Lisboa. Ele não atendeu a ordem
prontamente. Só obedeceu ao chamado e desistiu de sua luta depois que a capital
de seu país instruiu a polícia da fronteira espanhola a recusar os titulares
dos vistos assinados por ele.
Mesmo assim,
sabendo que ainda poderia fazer um pouco mais, a
caminho para a fronteira, conseguiu conduzir uma caravana de refugiados por um
cruzamento pouco conhecido, que costumava usar para evitar o trânsito de volta
a Lisboa.
Quando chegou
à capital, Aristides foi retirado da sua posição consular e teve sua
aposentadoria declarada
sem direito a qualquer
pensão. Aos 55 anos de idade e após 30 anos de serviços em vários países, era o
fim de carreira diplomática.
Mas não foi
só esse o preço pago pelos seus atos heroicos. Sua família
perdeu a própria casa, a chamada Casa de Passal. Em seguida, seus filhos foram proibidos de ingressar na universidade
e os Sousa
Mendes passaram a morar e se alimentar de favores
feitos pela Comunidade Judaica de Lisboa. Os amigos judeus ainda ajudaram 11 dos seus 15 filhos a
migrar para o Canadá e os Estados Unidos, para terem
direito a uma vida digna longe de seus perseguidores.
Aristides de
Sousa Mendes desencarnou como um miserável desconhecido no dia 03 de abril de
1954. Entretanto, entidades espirituais amigas nos informaram que ele foi
recebido no mundo maior por benfeitores que trabalham diretamente com Maria de
Nazaré. Prepararam para ele algo semelhante ao que se chama aqui na terra de honrarias de chefe de estado.
Em sua
honrosa recepção, foi
acolhido e aplaudido por centenas de criaturas, muitas delas parentes daqueles
que foram salvos por sua empatia e fizeram questão de ir pessoalmente
agradecer pela sua bondade.
Embora o
número dos que foram salvos por ele durante o período de três dias não possa
ser documentado, os historiadores estimam o número de 30.000 pessoas, dos quais
pelo menos 10.000 eram judeus.
Quando
perguntei ao espírito
amigo que inspirou esse
texto, se o número era semelhante ao que apontavam os historiadores, ele me informou que o próprio Aristides ficou sabendo depois, já no plano espiritual, que alguns outros colegas se inspiraram em
sua coragem e emitiram outros tantos milhares de
permissões. Muitas delas sem qualquer apresentação de passaportes, sendo
firmadas em papéis avulsos, e salvaram mais 10.000 vidas que atravessaram por
fronteiras desavisadas da Espanha.
Certamente,
esse foi o maior ato de resgate de vítimas, que foi feito por um único ser
humano ao longo do
período de terror do
holocausto.
Aqui na
terra, apenas em 1966 veio o primeiro reconhecimento merecido para esse
herói, quando Israel
declarou Aristides “Justo entre as Nações”.
Vinte anos
depois, o Congresso dos Estados Unidos emitiu uma proclamação em honra ao seu
ato heroico.
Em sua terra
natal o reconhecimento oficial só ocorreu tardiamente,
em 1988, pelas mãos do presidente Mário Soares.
Alguns anos atrás a
Casa do Passal foi declarada Monumento Nacional e o rosto de Aristides também passou a aparecer impresso em
selos de vários países.
Na espiritualidade, há
notícias de que ele
trabalha no apoio aos refugiados e às vítimas
de guerra, junto à falange de Maria de Nazaré. Continuou sendo o homem Empatia.
Jaime Ribeiro
Inspirado
pelo espírito Professor Herculano.
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Linda história de amor ao próximo, que bom podermos saber que existem seres humanos tão especiais!! ������
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