terça-feira, 2 de abril de 2019

O HOMEM EMPATIA | ESPÍRITO DO PROFESSOR HERCULANO POR JAIME RIBEIRO




“Que mundo é este em que é preciso ser louco para fazer o que é certo?”
 Aristides de Sousa Mendes

Em maio de 1940, o mundo assistia impressionado a blitzkrieg nazista invadir a França, levando preocupação sobre o futuro das nações européias poderosas.
Portugal foi um país que se declarou neutro, desde o início da Segunda Grande Guerra. Contudo, muitos historiadores afirmam que seu ditador fascista, Antonio de Oliveira Salazar, era simpático à Hitler e aos ideais nazistas. Tanto que em novembro de 1939 ele publicou a famosa circular 14, documento que proibia a emissão de vistos a judeus, russos e apátridas, impedindo-os de entrar naquele país.

O mundo todo já ouvia rumores do que estava ocorrendo com os judeus em países ocupados pelos alemães nazistas. Por isso, após a invasão alemã da França, dezenas de milhares de pessoas marcharam para o sul daquele país, dirigindo-se especialmente a Bordeaux, deslocando-se de trem, carro, bicicleta e até mesmo a pé, muitos deles empurrando carrinhos de bebês e carros de mão.

Naquela cidade, residia o Consul Português Aristides de Sousa Mendes.

Notando que multidões se aglutinavam na frente do consulado que ele dirigia, telegrafou a Lisboa para receber instruções sobre o que fazer naquela situação particular. A resposta foi categórica: “ que se cumpra a Circular 14”.

Alguns dias depois, Paris foi ocupada. Aristides sentia-se cada vez mais torturado pelo cenário de desespero daquelas almas humanas que assistia todos os dias. Dirigiu-se para a praça onde ficava a grande sinagoga de Bordeaux, que estava lotada de milhares de judeus, com o intuito de conversar com as pessoas e entender o nível de angústia delas. Na frente da sinagoga, ele conheceu Chaim Kruger, um jovem rabino polonês que estava acompanhado com a sua família no meio da multidão. 

Reconhecendo em Kruger um homem distinto, ofereceu-se para ajudá-lo. Contudo, seu pedido de vistos para o rabino e sua família foi rejeitado por Lisboa. Inconformado, Aristides prometeu ao novo amigo que faria tudo que estivesse ao seu alcance para conseguir os seus documentos.
Apesar de ter ficado muito feliz com o gesto do cônsul, o rabino protestou. Alegou que não era apenas ele que precisava de ajuda, mas todos que estavam ali correndo risco de perder a vida.

Aristides voltou para casa pensativo. Passou três dias trancado no quarto, reflexivo e sem saber como ajudar. Estava diante de um dilema ético profundo. Obedecer ao seu país ou salvar a vida de milhares de pessoas iguais a ele, que corriam o risco de morrer pelas mãos inescrupulosas do nazismo. Após aquele período de orações e reflexões, surgiu com uma decisão segura e enérgica: "de agora em diante, darei visto a todos eles", declarou no consulado. "Não haverá mais distinção de nacionalidade, raça ou religião". "Não posso permitir que todas essas pessoas morram".

Imediatamente, começou a assinar todos os vistos que eram colocados na sua frente, estabelecendo uma verdadeira linha de montagem de emissão daqueles documentos. Juntaram-se a ele dois de seus filhos, o próprio rabino Kruger e mais alguns diplomatas que foram convencidos por ele de que aquilo era o certo a ser feito e de que ninguém deveria testemunhar e sentir a dor do outro e continuar omisso.

O cônsul desobediente, assinou freneticamente os novos vistos. Trabalhou dia e noite, por três dias seguidos, sem sequer parar para dormir ou fazer uma refeição, com o objetivo de salvar a maior quantidade possível de pessoas, antes que a fronteira fosse fechada.

No final de junho de 1940, Salazar ficou sabendo do que estava acontecendo no Sul da França e mandou chamar Aristides de volta a Lisboa. Ele não atendeu a ordem prontamente. Só obedeceu ao chamado e desistiu de sua luta depois que a capital de seu país instruiu a polícia da fronteira espanhola a recusar os titulares dos vistos assinados por ele.

Mesmo assim, sabendo que ainda poderia fazer um pouco mais, a caminho para a fronteira, conseguiu conduzir uma caravana de refugiados por um cruzamento pouco conhecido, que costumava usar para evitar o trânsito de volta a Lisboa.
Quando chegou à capital, Aristides foi retirado da sua posição consular e teve sua aposentadoria declarada sem direito a qualquer pensão. Aos 55 anos de idade e após 30 anos de serviços em vários países, era o fim de carreira diplomática.

Mas não foi só esse o preço pago pelos seus atos heroicos. Sua família perdeu a própria casa, a chamada Casa de Passal. Em seguida, seus filhos foram proibidos de ingressar na universidade e os Sousa Mendes passaram a morar e se alimentar de favores feitos pela Comunidade Judaica de Lisboa. Os amigos judeus ainda ajudaram 11 dos seus 15 filhos a migrar para o Canadá e os Estados Unidos, para terem direito a uma vida digna longe de seus perseguidores.

Aristides de Sousa Mendes desencarnou como um miserável desconhecido no dia 03 de abril de 1954. Entretanto, entidades espirituais amigas nos informaram que ele foi recebido no mundo maior por benfeitores que trabalham diretamente com Maria de Nazaré. Prepararam para ele algo semelhante ao que se chama aqui na terra de honrarias de chefe de estado.

Em sua honrosa recepção, foi acolhido e aplaudido por centenas de criaturas, muitas delas parentes daqueles que foram salvos por sua empatia e fizeram questão de ir pessoalmente agradecer pela sua bondade.
Embora o número dos que foram salvos por ele durante o período de três dias não possa ser documentado, os historiadores estimam o número de 30.000 pessoas, dos quais pelo menos 10.000 eram judeus.

Quando perguntei ao espírito amigo que inspirou esse texto, se o número era semelhante ao que apontavam os historiadores, ele me informou que o próprio Aristides ficou sabendo depois, já no plano espiritual, que alguns outros colegas se inspiraram em sua coragem e emitiram outros tantos milhares de permissões. Muitas delas sem qualquer apresentação de passaportes, sendo firmadas em papéis avulsos, e salvaram mais 10.000 vidas que atravessaram por fronteiras desavisadas da Espanha.

Certamente, esse foi o maior ato de resgate de vítimas, que foi feito por um único ser humano ao longo do período de terror do holocausto.
Aqui na terra, apenas em 1966 veio o primeiro reconhecimento merecido para esse herói, quando Israel declarou Aristides “Justo entre as Nações”.
Vinte anos depois, o Congresso dos Estados Unidos emitiu uma proclamação em honra ao seu ato heroico.

Em sua terra natal o reconhecimento oficial só ocorreu tardiamente, em 1988, pelas mãos do presidente Mário Soares.
Alguns anos atrás a Casa do Passal foi declarada Monumento Nacional e o rosto de Aristides também passou a aparecer impresso em selos de vários países.
Na espiritualidade, há notícias de que ele trabalha no apoio aos refugiados e às vítimas de guerra, junto à falange de Maria de Nazaré. Continuou sendo o homem Empatia.

Jaime Ribeiro
Inspirado pelo espírito Professor Herculano.






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Um comentário:

  1. Linda história de amor ao próximo, que bom podermos saber que existem seres humanos tão especiais!! ������

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